segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Vovô Chico dando aula de preliminares pros funkeiros

Naquele que é o mais explicitamente sexualizado gênero musical contemporâneo no Brasil, o funk carioca, o sexo é tratado como em um filme pornô, ou em uma aula de aeróbica, mal conseguindo ocultar sua profunda fragilidade e a ausência assombrosa daquilo que afirma possuir - seu didático reino de pirocas, xotas e cus pretende a todo custo evitar o confronto com o real da inexistência monstruosa da relação sexual (pra seguirmos Lacan). A pornografia é uma tragédia para a psique masculina, ainda que a sexualização agressiva da matéria social seja talvez o que de mais relevante o funk tem a nos dizer sobre a sociedade contemporânea. A linguagem do funk é a forma por excelência da sociedade atual.

Diante disso, o que o vovô Chico pode nos ensinar? Se você pretende que uma mulher te ame com o corpo (que é muito mais profundo e eterno que o amor da alma) é preciso perder-se nas preliminares, até que se torne o lugar do gozo. Essa é talvez a mais bela canção sobre as preliminares da MPB (e não são poucas). Aqui o velho Francisco consegui bater o Wando e se equiparar a Roberto Carlos, o que não é pouca coisa. Perto dessa sabedoria cunilingual, o didatismo agressivo e condicionador dos funkeiros fica parecendo o sexo desesperado de um bando de moleques com ejaculação precoce. O que é uma pena, pois o potencial estético do gênero é tão grande quanto o do rap, só lhe faltando talvez um pouco mais de tencionamento ideológico.

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