sexta-feira, 11 de maio de 2007

Cassia Eller - Acustíco MTV



Comecemos em alto nível, citando Adorno logo de cara, para evitar que qualquer Zé Mané sem embasamento teórico tenha a pachorra de contestar. Os não sujeitos de hoje, que perderam a capacidade de ouvir, acreditam piamente na lorota que nos é vendida por programas como Fama, ou Raul Gil, de que ter boa voz é sinônimo de cantar bem. A Sandy não desafina, e não sabe cantar, menos ainda a Marisa Monte, que desafina e não sabe cantar. Ambas tem potência vocal, encontraram uma fórmula agradável aos ouvidos, e transformam todas as músicas em uma reprodução do mesmo. Uma boa cantora cria sua interpretação a partir das necessidades expressivas da música – embora mantendo sua identidade – ao invés de fazer o movimento contrário e usar a música como um pretexto para exibição de seus dotes vocais. Billie Holliday fazia isso. Elis fazia também. E Cássia Eller também fazia, e melhor a cada dia que passava.

Isso pode soar meio ofensivo aos ouvidos apreciadores de Monica Salmaso, que apara todas as arestas e imperfeições das suas interpretações e arranjos, transformando, em nome do bom gosto, tudo em canção de ninar, pronto para ser servido em alguma reunião social pau no cu de classe média. (Interessante que, apesar de se aproximar em grau de chatice, o movimento é o oposto ao da Bossa Nova, que transformou a contradição em princípio estético). Ofende mais é verdade – o esteticamente relevante muitas vezes parte da imperfeição e do defeito de fabricação, pra não mais sair de lá. Caveant, consules.

Por isso tudo, mais sua variedade de repertório – música brega francesa (interpretação feminíssima, contrariando os imbecis que acham que homossexualidade significa se tornar o outro), Beatles, samba (um riachão impagável) e samba Cult (um Chico interpretado ironicamente, colocando no chinelo a interpretação clean do MPB4), manguebeat, pop rock, pop canção, cultura maranhense, hip hop convivendo em um mesmo cd - por cantar Nirvana melhor do que qualquer marmanjo, por ser gente boa pra cacete, e por outras, esse é o melhor acústico da MTV e um disco bom pra cacete, a despeito dos Nandos Reis da vida. Mas, ninguém pode negar que ‘malandragem’ só faz sentido com a Cássia, e que alguma vez na vida já se emocionou com ‘o segundo sol’.
Quando voltaram a si, o narrador havia descido as escadas.

3 comentários:

  1. Engraçado o comentário referente ao Nando Reis...

    "O segundo sol" foi ele quem compôs... Mas é verdade que na voz da Cássia fica bem melhor...

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  2. Ela passa por todos os estilos nesse CD, absurdo!! Muito bom...

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